Com L também se escreve Amor
2015-07-03
Ser portador de linfedema não é sinónimo de viver sozinho, de deixarmos para trás a nossa realização afetiva e emocional. O linfedema tem um grande impacto na forma como lidamos connosco próprios, com o nosso corpo, com o medo de sermos rejeitados, com a autoestima. Quantas vezes o pensamento que nos assalta é: “Se eu não gosto de mim, do que vejo; quem vai gostar mim, assim?”
Mas há mais vida para além do linfedema, é possível amarmos e sermos amados, é possível alguém gostar de nós, pois todos temos diferenças e é nesse encontro de diferenças e de limitações que cada ser humano possui que o amor nasce e se constrói. A felicidade e a completude afetiva, emocional e íntima não é uma porta fechada para todos aqueles que são portadores de linfedema, no encontro e na aceitação com/do Outro é uma forma de nos aceitarmos, de sentirmos que somos iguais a todos os outros, de aprendermos a gostar de nós mesmos, de darmos o que há de melhor em nós ao Outro, é uma aprendizagem, um caminho de aceitação e de partilha.
É natural, que neste percurso poderemos ter algumas desilusões, pois não é qualquer pessoa que possui maturidade emocional para ver para além do corpo, da beleza física (numa sociedade que estigmatiza a diferença), mas nós somos muito mais que corpo, somos seres físicos e espirituais. Quem quiser partilhar a vida connosco, fá-lo-á, independentemente da nossa condição física. O amor, a amizade, o companheirismo supera tudo isso.
O meu linfedema surgiu na minha adolescência, idade terrível para uma rapariga em que o seu aspeto físico é bastante importante. Apesar de não ser muito acentuado, incomodava-me, escondia-o; no entanto, nunca foi um entrave para a minha vida afetiva, embora me comparasse constantemente com as outras raparigas da minha idade. Após a gravidez, piorei muito, as infeções eram recorrentes, o peso aumentou bastante, a perna triplicou; como é óbvio, isso afetou o meu relacionamento, embora nunca tenha falado disso, eu sentia isso … sentia de tal forma que a minha maneira de lidar com a situação foi acomodar-me, deixar de cuidar da minha saúde e de mim mesma. Achava que mais ninguém iria gostar de mim assim, sentia-me um “monstro”… Até que um dia, decidi tomar as rédeas da minha vida e tentar ser feliz … e parti para uma nova fase e ai percebi que o meu linfedema não era obstáculo nenhum, a grande barreira estava na minha mente!
Conheci o meu atual companheiro há cinco anos, lembrou-me quando fomos apresentados que fiz questão de dizer que tinha uma doença crónica e que o meu membro inferior esquerdo era o triplo do direito, a que me respondeu: “E eu tenho os pulsos magros, qual é o problema?” Temos feito um percurso juntos, ele tem sido o meu pilar na aceitação de mim mesma, da minha autoestima ter aumentado, motiva-me quando quero desistir, incita-me a procurar soluções para melhorar a minha patologia e a minha qualidade de vida, cuida de mim quando adoeço … é o meu pilar, aquela pessoa que sei que posso contar sempre. O amor que temos vindo a construir, a amizade, a cumplicidade e a partilha fez-me voltar a acreditar no Amor e na Felicidade, sabendo que mesmo com Linfedema é possível amar e ser amado!
No plano da intimidade, cada um de nós, de acordo com o membro edemaciado, vai fazendo o seu percurso com o (a) seu (sua) companheiro(a), numa relação de conhecimento mútuo, de partilha de sentimentos, de afetos, de medos para uma vivência plena (aconselho a leitura deste apontamento: “Your Sex Life When You Have Lymphoedema”
Por tudo isto, com L também se escreve Amor e Intimidade!
testemunho de:
Maria João Carapinha